Por que o Flamengo brigou com provável nova dona do Maracanã
rodrigomattos
26/03/2017 04h00
Com a saída da GL Events da concorrência, a Lagardère aproximou-se de fechar um acordo para comprar da Odebrecht a concessão do Maracanã. O Flamengo e a empresa têm uma relação rompida desde o ano passado o que afasta o time do estádio. O motivo é que a diretoria rubro-negra perdeu a confiança neste grupo francês após negociações entre as partes no ano passado.
Para entender todo o contexto, é preciso contar a história do início. Desde a concessão feita à Odebrecht, a Laragadère estava interessada no Maracanã, tendo participado da concorrência do lado da BWA, firma brasileira que já atuou em bilheteria em vários estádios. A empresa francesa voltou a carga quando a empreiteira manifestou a intenção de sair no final de 2015.
A partir daí, a Lagardère iniciou em paralelo conversas com o governo do Estado e, desde o meio de 2016, também com o Flamengo. A ideia da empresa era comprar a concessão e fechar uma parceria com o clube que poderia ter participação na gestão. As duas partes (clube e empresa) chegaram a assinar um acordo de confidencialidade sobre a negociação.
Um obstáculo era a presença da BWA como parceira da Lagardère já que a empresa tem um histórico de problemas em bilheterias, inclusive com acusações de fraudes e desvio de bilhetes. A empresa francesa é sócia da BWA na Arena Independência e na Arena Castelão. Formalmente, a Largardère tirou o parceiro da concorrência do Maracanã. Mas a diretoria do Flamengo vê indícios de que a BWA pode fazer parte da operação do estádio, o que gera desconfiança.
Além dessa questão, houve um episódio em setembro de 2016 que azedou de vez a relação entre as partes. Membros do governo do Estado convidaram executivos da Lagardère no Brasil para uma reunião para discutir a concessão, e eles foram ao encontro.
Os dirigentes do Flamengo, que negociavam com os franceses, não foram avisados e se consideraram traídos, entendendo que a empresa tinha negociado nas suas costas. Na versão rubro-negra, a Lagardère tentou forçar uma transferência do Maracanã para suas mãos quando o acordo entre as partes seria participar de uma nova licitação do governo. Para os dirigentes do clube, a empresa tentou obter o estádio em negociação paralela para depois forçar o Flamengo a aceitar um acordo mais favorável aos franceses.
A versão da empresa francesa é de que, ao ser convocado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, tinha que se apresentar para ouvi-lo. E a Lagardère defende que fez uma proposta favorável ao Flamengo com participação do clube na gestão do estádio, e cobrança de 10% de aluguel no estádio.
A diretoria rubro-negra diz que isso não é verdade: afirma que a empresa francesa estava interessada na bilheteria da agremiação e nunca fez proposta para liberar a renda do clube. Alega que o objetivo da Lagardère é usar o clube para bancar o custo do Maracanã.
Com esse cenário de desentendimento, as conversas entre Flamengo e Lagardère se tornarem inviáveis já no segundo semestre de 2016. Desde então, o Flamengo se aproximou da GL Events e da CSM para formar um grupo para gerir o estádio – depois essas desistiram do Maracanã. Enquanto isso, a Laragadère iniciou negociações com Fluminense, Vasco e Botafogo.
Há a intenção da Lagardére de, se for confirmada como nova concessionária do Maracanã, fazer uma proposta para o Flamengo para jogar lá. Acena com possibilidade de o clube ser ouvido na gestão, e de reduzir o valor do aluguel.
A diretoria rubro-negra, no entanto, descarta sequer ouvir porque entende que não dá para confiar na empresa e que a Lagardère nunca formalizou proposta favorável ao clube. Dirigentes do Flamengo entendem que a empresa francesa tenta chantagem para obriga-lo a fechar um acordo pela necessidade rubro-negra de ter um estádio de mais de 20 mil lugares. Há até o temor de a empresa tente influenciar na política do clube para enfraquecer a atual gestão com o objetivo de obter um acordo.
É fato que a Lagardère aposta que o atual presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, vai ter que ceder por que o Flamengo não aguentaria jogar só para 20 mil pessoas no Rio. Assim, a longo prazo, a empresa prevê que pode até haver uma mudança de gestão ao final de seu mandato, ou que ele não aguentará a pressão da torcida.
Do seu lado, o clube cogita ir à Justiça para questionar uma possível transferência do estádio à empresa francesa baseado na recomendação do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de que a concessão fosse anulada. Há suspeitas sobre irregularidades e corrupção no processo que deu o estádio para a Odebrecht.
O próximo passo é saber se a Odebrecht vai confirmar a Largadère como nova concessionária do Maracanã e o governo do Estado vai dar aval. Neste caso, a briga entre Flamengo e a empresa francesa promete se estender por mais tempo.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.