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Após 22 anos, um Fla-Flu para reerguer o Maracanã

rodrigomattos

24/04/2017 04h00

Após o final de semana, o Estadual do Rio ganhou em atração ao ter um Fla-Flu decidindo título após 22 anos do gol de barriga de Renato Gaúcho que deu o título emblemático ao tricolor. O confronto de 1995 foi, porém, parte de um octogonal final. A última final entre as duas equipes foi em 1991.

O clássico é um sopro de esperança para um campeonato desgastado por uma fórmula esdrúxula feita pela Ferj e pelo excesso de jogos da competição. É também uma chance de os clubes se entenderam sobre um futuro para o Maracanã.

Não dá para dizer que o Estadual de 2017 foi empolgante. A fórmula escolhida criou jogos inúteis como as semifinais e finais dos dois turnos, houve longas 18 datas enquanto os times se preocupavam mais com outras competições e para completar houve pouco público e violência.

As duas semifinais reuniram menos de 50 mil pessoas. O público, o mesmo que tem lotado partidas de Libertadores e de Sul-Americana, não é bobo e tem dado seguidas demonstrações de reprovação ao modelo atual do Estadual, longo e sem sentido.

Em campo, os resultados foram os óbvios. No sábado, o Fluminense de Abel Braga usou sua velocidade e garotos para vencer com sobras um perdido Vasco, mostrando como é grande a diferença entre os dois times. E o Flamengo com seu time encorpado teve domínio sobre o Botafogo em que sobra garra e disciplina tática, mas falta elenco para brigar em duas frentes – melhor priorizar a Libertadores.

A repetição da final depois de duas décadas ocorre em um momento emblemático em que se discute o futuro do Maracanã para muito tempo. E a dupla Flamengo e Fluminense, principais interessados no estádio, demonstrou discursos opostos e sinais de colisão sobre a rota desse patrimônio carioca.

A diretoria rubro-negra briga por uma nova licitação. É um pleito justo diante dos sérios indícios de fraudes na concessão dada à Odebrecht. Não pode, no entanto, o Flamengo esperar uma concorrência que dê o estádio só para si. No discurso, o presidente Eduardo Bandeira de Mello afirma que quer o Fluminense como sócio e prevê abrir o Maracanã a todos.

Mas há o temor expresso pelo presidente tricolor, Pedro Abad, em entrevista no sábado. Como expresso ali, é seu direito pedir acesso igual ao estádio já que seria injusto privilegiar o Flamengo. Discordo dele quando insiste na atual concessão e na venda do estádio à Lagardère pelos problemas já expressos na licitação, não por conta da empresa. Mas seu discurso é de defesa dos interesses do clube.

Flamengo e Fluminense deveriam aproveitar a final para sentar juntos e pensar em um modelo para o Maracanã. A diretoria rubro-negra terá de ceder pois não vai cuidar de tudo sozinha. E a diretoria tricolor terá de ceder porque seu contrato feito com a Odebrecht é impraticável no novo cenário em que todos têm que pagar contas. Nem com a Lagardère o clube ficará imune de pagar despesas.

Para jogar no Maracanã, cada clube terá direitos e ônus, não há outro jeito pois não se deve tirar dinheiro público para isso. Um caminho do meio é bem possível se conversado com o governo do Estado, com participação também de Vasco e Botafogo apesar de ambos terem outros estádios para jogar.

A dupla Flamengo e Fluminense não tem motivo para alimentar suas rivalidades fora de campo, visto que foram bons os resultados para ambos quando se uniram fora dele – um exemplo foi a questão de torcida única. Que reservem todo o seu antagonismo para o jogo da final do Estadual quando poderão viver a sua face de irmãos Karamazov como descrito por Nelson Rodrigues.

 

 

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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