Topo

Ordem da Fifa encareceu Mané Garrincha em R$ 20 mi e não teve efeito nenhum

rodrigomattos

08/07/2017 04h00

O estádio Mané Garrincha, em foto de junho de 2013 (Crédito: Jefferson Bernardes/AFP)

Uma exigência da Fifa para antecipar o fim das obras encareceu o Mané Garrincha em R$ 20 milhões e não teve efeito prático nenhum. É o que mostra o relatório do Tribunal de Contas dos Distrito Federal que apura irregularidades no estádio. O projeto é cercado de tantas suspeitas que já levou à prisão dois ex-governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda.

Desde 2010, o tribunal de contas fiscaliza a obra do Mané Garrincha, arena mais cara da Copa-2014, com custo de R$ 1,9 bilhão. O tamanho do prejuízo para os cofres públicos varia em cada avaliação: a Polícia Federal já falou em mais de R$ 900 milhões, a corte fiscal mencionou R$ 366 milhões e há processos em apuração sobre quanto será cobrado do consórcio de empreiteiras (Andrade Gutierrez e Via Engenharia) e de gestores públicos.

Em um dos processos no tribunal de contas, de junho de 2016, os auditores determinaram a tomada de contas especial após relatório apontar superfaturamento de R$ 67,8 milhões em itens de construção. Dentro desse documento, que tornou-se público, é possível constatar o papel da Fifa em aumentar o custo da obra, ainda que este valor não esteja sendo cobrado.

O relatório aponta que o cronograma inicial da obra era para que o Mané Garrincha fosse finalizado em julho de 2013. "No entanto, compromisso assumido posteriormente pelo GDF (Governo do Distrito Federal) com o governo federal e com a Fifa antecipou a conclusão para dezembro de 2012. Para isso, foi assinado o termo aditivo "H" e foram acrescidos gastos de aproximadamente R$ 20 milhões com serviços noturnos", contou o documento.

De fato, durante o ano de 2012, a Fifa pressionou para que os estádios estivessem prontos com seis meses de antecedência para a Copa das Confederações – era o prazo de compromisso inicial. Pressionados, governadores começaram a assinar aditivos com empreiteiras para turnos extras para cumprir a data. Isso porque era uma competição teste, e não a própria Copa do Mundo.

Pois bem, após o aditivo, a obra terminou no mesmo prazo previsto anteriormente, meio de 2013. Segundo o relatório do tribunal, uma análise de documentos "permitiu concluir que o Consórcio recebeu recursos para antecipar o prazo de entrega da obra, mas não cumpriu com esse acordo." Havia preparativos finais do Mané nas vésperas da Copa das Confederações.

Em sua defesa, as duas empreiteiras (Andrade Gutierrez e Via Engenharia) e Novacap, empresa do governo, afirmaram que o aditivo não era para antecipar o projeto, mas para incluir alterações exigidas pela Fifa e garantir o cronograma do contrato. Ou seja, na versão deles, pagaria-se mais para cumprir a data já prevista no contrato.

Ainda assim, o consórcio alega que a antecipação da obra teve impacto no aproveitamento de materiais de obras, o que aumentou o total final. Neste ponto, o tribunal aponta R$ 23 milhões de superfaturamento nos materiais por entender que a argumentação não procede. Só após a tomada de contas vai ser apurado o prejuízo.

Até agora, a investigação da Polícia Federal apontou que Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda favoreceram a Andrade Gutierrez e Via Engenharia com a fraude da licitação e por medidas tomadas na realização da obra. A apuração se iniciou em delação de ex-executivos da Andrade Gutierrez que revelaram um cartel de empreiteiras na maioria dos estádios da Copa-2014.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Ordem da Fifa encareceu Mané Garrincha em R$ 20 mi e não teve efeito nenhum - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


Rodrigo Mattos