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Como o Flamengo perdeu o Brasileiro e o técnico em um turno

rodrigomattos

07/08/2017 04h00

Ao montar seu elenco para o Brasileiro, o Flamengo se posicionava como um dos principais candidatos ao título, com vários jogadores acima da média nacional. Após um turno, com a derrota para o Vitória em casa, o clube está virtualmente fora da disputa pela taça como se constata com qualquer conta simples. E demitiu o técnico Zé Ricardo que mantivera durante mais de um ano, inclusive após a queda na Libertadores.

Concluído o primeiro turno, o Flamengo soma 29 pontos, a 18 do líder disparado Corinthians. Como empatou muito, na prática, precisaria de sete rodadas para ultrapassar o ponteiro, restando 19 jogos. Não há nenhum precedente no Brasileiro, nem na lógica, ainda que o líder não fosse uma equipe que pouco falha como a corintiana.

Dito isso, tentemos entender como o time de Zé Ricardo passou de favorito a no máximo postulante ao G4. E isso começa pela eliminação na Libertadores, logo após a primeira rodada do Nacional. Naquela campanha, o time já exibia as qualidades e principalmente os defeitos que o levaram a capengar no Brasileiro.

É um time de boa precisão de passe e que controla a bola, muitas vezes dominando o adversário. É dos times com maior acerto no quesito no Nacional, segundo o site Footstats. Por isso, aumenta suas chances de chegar ao gol adversário, ainda que apelasse demais a cruzamentos quando pegava equipes fechadas.

Ao mesmo tempo, comete erros primários nas zonas decisivas do campo. Na Libertadores, dominou jogos que perdeu fora, Universidad Católica e Atlético-PR. No Brasileiro, perdeu gols incríveis contra Corinthians (Diego), Santos (Viseu), Palmeiras (Diego pênalti perdido), Vitória (Viseu), todas partidas em que acabou derrotado ou com empates.

É um problema coletivo, não de um centroavante ou só do ataque. O time não tem a concentração necessária, ou está excessivamente nervoso. Difícil saber. Fato é que o problema existe há meses e Zé Ricardo não o resolveu: concentração é, sim, treinada. Não levo muito fé em expressões como "DNA perdedor", mas em equipes que são seguras na execução dos aspectos técnicos. Essas ganham como é o caso corintiano.

E o mesmo ocorreu na defesa. Jogadores cometeram erros em lances fáceis (como o de Arão neste domingo), em posicionamento equivocado para marcar (veja os sete gols sofridos contra o Santos), em bolas altas. A lista é grande e envolve do goleiro a todos os jogadores do sistema defensivo. De novo, uma defesa bem treinada não comete esse tipo de erros em tal quantidade.

Se compararmos com o Brasileiro-2016, o Flamengo atual tem um média de gols feitos um pouco melhor (1,42 a 1,36), e uma média de gols tomados pior (1 contra 0,92). Em resumo, desde que encontrou um padrão para o time no meio do Nacional do ano passado, Zé Ricardo não conseguiu fazê-lo evoluir nos aspectos que faltavam. Teve mais opções, melhores jogadores, e entrega menos do que no ano passado.

E isso se explica também pelos seus equívocos nas escolhas de jogadores. Insistiu por muito tempo com jogadores que erravam muito (não eram só eles) como Márcio Araújo, Vaz, Muralha. Ainda fez outras opções difíceis de compreender como preferir em geral Geuvânio, recém-contratado e sem ritmo, a um Berrío em boa fase.

Quando caiu na Libertadores, o Flamengo precisava de uma mudança, e a diretoria do clube decidiu que esta deveria ocorrer com o mesmo Zé Ricardo. Isso teve a ver com o presidente Eduardo Bandeira de Mello entender que a rotatividade de técnicos é prejudicial, e que errou quando trocou muito técnico. Naquele momento, entendi que a decisão era correta. Mas o resultado não foi positivo.

Realizados 20 jogos após aquela queda, o time rubro-negro comete erros parecidos e não evoluiu nada. A saída de Zé Ricardo, portanto, é justificada. Não adiantava lhe dar mais tempo se havia uma estagnação. Caberá ao Flamengo agora na escolha do novo técnico buscar alguém que dê um perfil ao seu departamento de futebol, uma cara.

É algo que a diretoria rubro-negra ainda não conseguiu em seus quatro anos e meio de gestão no futebol. Acertou nas áreas administrativa e financeira o que proporcionou o bom elenco atual, mas não nas escolhas de como conduzi-lo tecnicamente para poder triunfar.

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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