Substância de doping complica Guerrero e só forma de ingestão pode atenuar
rodrigomattos
04/11/2017 04h00
Com Pedro Ivo de Almeida
Suspenso de forma provisória por doping pela Fifa, o atacante do Flamengo Paolo Guerrero terá seu futuro julgado por conta do teor da substância ingerida, a forma como ocorreu e a responsabilidade do jogador. A informação do Globo.com é de que trata-se de um metabólito da cocaína, benzoilecgonina, o que complica sua situação. O blog confirmou que o Flamengo aposta em que seja por ingestão de chá de coca ou remédio para amenizar a situação.
A substância encontrada no teste de Guerrero, após o jogo Argentina x Peru, foi da categoria S6, que são os estimulantes. São consideradas doping no caso de ocorrerem durante a competição. Há duas categorias da substâncias S6: não especificadas, e especificadas. A cocaína está entre as substâncias que aumentam a gravidade do caso. Assim, as penas podem ir até quatro anos.
"Faz toda a diferença. As não especificadas são mais graves e, em geral, levam a penas de até quatro anos. Já as especificadas vão de advertência a dois anos", explicou o presidente do Tribunal Desportiva Antidopagem do Brasil, Luciano Hostins. "Pode ser mais ou menos dependendo de tudo que está em volta, das circunstâncias."
Pelo Código Disciplinar da Fifa, umas das obrigações da defesa do jogador é produzir provas para tentar cancelar ou reduzir sua pena. Entre elas, está demonstrar como a substância foi parar em seu corpo. Se conseguir provar que não teve intenção de ingerir um conteúdo dopante, o jogador melhora suas chances no tribunal.
Dentro do Flamengo, a primeira tese é de que a substância pode ser ingerida de outras formas. Rejeita-se a possibilidade de Guerrero ter consumido cocaína com a alegação de que ele passa por vários testes surpresas durante a temporada no Brasil, o que começou a ocorrer neste ano. Por isso, o clube entende que foi algo ingerido quando estava com a seleção peruana.
Neste caso, o clube, primeiro, apostava que a substância também encontrada em remédios que foi a explicação dada pelo jogador que estava gripado. Mas, no Flamengo, admite-se como maior possibilidade a ingestão por meio de chá de coca.
"Se for não intencional, é atenuado. Há a visão de ser mais realista e não de punir por punir", contou Thomaz Paiva, advogado especialista em doping que atua em cortes internacionais. Mas isso não o exime de pena porque o jogador é responsável pelo que põe em seu corpo.
Isso é tratado no artigo 10.5.1.1 do Código da Wada (Agência Mundial Antidoping). Pelo texto, a punição será mínima, ou não haverá pena, caso o jogador consiga provar que não cometeu uma falha significativa ou negligência no doping. Mas isso tem que ser mostrado com provas.
O goleiro Zetti, da seleção, já foi pego no exame antidoping por cocaína e foi inocentado por provar que foi por ingestão do chá. Mas houve outros jogadores punidos por ter sido encontrado o metabólito da cocaína em seu sangue.
Essas questões serão analisadas no Comitê Disciplinar da Fifa e a previsão é de que o julgamento ocorra em um mês. A suspensão provisória, no entanto, dificilmente será anulada. Para isso, teria de se conseguir uma prova muito forte de que Guerrero foi prejudicado por circunstâncias alheias a ele, ou que o teste estava errado.
Todos os advogados ouvidos pelo blog consideram isso difícil. A tendência é Guerrero não jogar mais em 2017. Findo o processo no Comitê da Fifa, as partes podem recorrer ao CAS onde, de fato, o destino do jogador será decidido. O Flamengo ainda analisa o caso e a contratação de um advogado para defender seu atacante.
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Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
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