Empresa de delator vendia Libertadores à Globo com 7 anos de antecedência
rodrigomattos
16/11/2017 04h00
A empresa controlada pelo executivo que acusou a Globo de pagar propina vendia os direitos da Libertadores à emissora com sete anos de antecedência, tanto que negociara a competição até 2022. Isso é incomum no mercado de direitos em que há valorização constante dos produtos. Os acordos foram rompidos após escândalos contrariando posição da Globo que queria mante-los.
Ex-executivo da Torneos Y Competencias Alejandro Burzaco é réu confesso no caso Fifa na Justiça dos EUA, após admitir ter pago propinas a dirigentes. Em depoimentos nesta terça-feira e quarta-feira, em Nova York, ele acusou a Globo de ter atuado juntamente com ele no pagamento de subornos a dirigentes sul-americanos.
Uma das empresas do grupo de Burzaco era a Torneos & Traffic Sports & Marketing BV, com sede na Holanda. Essa empresa tinha comprado os direitos da Libertadores da Conmebol por mais de dez anos. E mantinha uma relação desde 2004 com a Globo para quem revendia a competição sul-americana.
Em outubro de 2008, a Torneos & Traffic vendeu para a Globo os direitos da Libertadores dos anos de 2015 a 2018. Ou seja, a negociação aconteceu com sete anos de antecedência. Em seguida, em 2012, a T&T negociou novo contrato com a Globo, válido de 2019 a 2022. Assim, era uma transação, de novo, sete anos antes do primeiro campeonato.
Para efeito de comparação, a UEFA faz leilões pelos direitos da Champions League a cada três anos, em geral com um ou dois anos de antecedência. Estaduais também têm vendas de direitos um ou dois anos antes de se extinguir o acordo anterior. O Brasileiro teve sua renegociação de direitos no início de 2016 para acordos válidos a partir de 2019. Não há precedente de sete anos de antecipação, o que dificulta concorrência.
Além disso, o segundo contrato da Globo, previa um direito de preferência sobre a Libertadores que iria até 2026. Ou seja, a emissora teria chance de igualar ofertas de concorrentes e ficar com a competição até lá.
Outro privilégio do contrato é que previa que os jogos seriam marcos preferencialmente às 21h45, isto é, apôs a novela. Como já mostrado no blog, a emissora pagava um valor abaixo do mercado pela competição sul-americana.
Por isso, quando estourou o escândalo de corrupção na Conmebol, a Globo entrou na Justiça contra a Conmebol e a T & T para tentar manter seus contratos obtidos na gestão acusada de corrupção na entidade. Na ação, afirmou sobre a empresa de Burzaco: "A relação entre as partes é de longuíssima data."
Quem aparecia como representante da Globo no segundo contrato com a T & & era Marcelo de Campos Pinto. Burzaco apontou que Campos Pinto presenciou acerto de subornos com dirigentes brasileiros em reunião na Conmebol. A Globo negou, em seus noticiários, conhecimento de qualquer atuação do executivo neste sentido e de reunião para isso.
Em nota, a Globo negou as acusações de Burzaco. É preciso ressaltar que a empresa não figura entre as acusadas de pagar propina no processo da Fifa até agora. Aqui a nota da emissora:
"Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na Justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige."
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.