Brasil se recuperou do 7 a 1 em campo, mas, fora, segue longe da Alemanha
rodrigomattos
27/03/2018 10h00
Em suas análise antes do jogo, os jogadores e técnico alemão Joachim Low ressaltaram o fato de a seleção brasileira ter evoluído em relação à semifinal da Copa do Mundo de 2014 em que sofreu goleada para a Alemanha. Uma análise correta: Tite recuperou o time a ponto de poder enfrentar com igualdade os rivais no amistoso. Fora de campo, no entanto, a organização do futebol brasileiro continua longe, muito longe, dos germânicos.
Vejamos o que temos nos campos da Bundesliga e no Brasileiro para estabelecer uma comparação. A liga alemã é a segunda do mundo em receita, com um total que gira em torno de 3,3 bilhões de euros (R$13,6 bilhões). Já o campeonato organizado pela CBF gera receita de televisão em torno de R$ 1,8 bilhão para 2019, novo contrato de direitos. A receita de bilheteria é de cerca de R$ 200 milhões.
Claro, temos de considerar que há uma diferença de moeda e força de economia, visto que a Alemanha é uma potência financeira. Mas a diferença de seis para um é bastante significativa.
A parte financeira é reflexo de como são organizados os dois campeonatos mais importantes dos dois países. Na Alemanha, há a liga que pensa sua estratégia para cada ano. É emblemático que os clubes da Bundesliga tenham aprovado o árbitro de vídeo em sua reunião anual quase por unanimidade, e os clubes brasileiros tenham rejeitado o mecanismo para o Brasileiro-2018. Ficaram incomodados com o preço imposto pela CBF que daria R$ 1 milhão para cada no campeonato.
Externamente, a Bundesliga conta com regras financeiras de fair play financeiro para os clubes para garantir que estejam saudáveis e não gastem mais do que podem. Há ainda regulamento, mais restritivo do que de outros países, que não permite a empresários ou empresas comprem mais de 50% das ações dos clubes. Exceção apenas para empresas que tenham fundado os clubes ou estejam por lá há 20 anos.
No Brasil, mesmo com as regras de Profut, os clubes continuam a penar para pagar salários e impostos em dias, a ponto de dirigentes ainda falarem em usar dinheiro que era obrigação fiscal para financiar suas atividades.
Na arquibancada, outra goleada. A Alemanha é a liga com melhor média de público, de 41 mil pessoas por jogo. O Brasileiro tem média de 15 mil pessoas e não tem evoluído nos anos recentes.
Apesar desse cenário, na última reunião, o CEO da Bundesliga, Christian Seifert, disse que tinha que seja feita "uma análise dolorosa" e "uma discussão aberta" por conta da falta de resultados na Europa dos times alemães. Ou seja, não estava satisfeito com o cenário.
A CBF investe pouco no Brasileiro da Série A porque alega que não ganha dinheiro com ele. E vem mantendo as mesmas estruturas para melhoria de gramado, arbitragem ou promoção do torneio de anos atrás. O problema brasileiro, portanto, está longe de ser o time de Tite que equilibrou o quadro diante de Joachim Low. Nossa questão é bem mais em cima.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.