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Fifa tem um dilema: sombra de manipulação crescerá com a Copa com 48 times

rodrigomattos

30/06/2018 04h00

A fase de grupos da Copa da Rússia-2018 acabou com questionamentos em relação a armações em certos jogos, seja para ter um adversário mais fraco, seja para se classificar com um empate ou uma derrota. O time não joga de fato para vencer, embora não seja uma manipulação clara de resultado. A Fifa não se diz preocupada. Mas essa sombra sobre a competitividade dos jogos vai crescer ainda mais quando a Copa tiver 48 times.

Lembremos os questionamentos aos comportamentos das seleções nesta Copa. Primeiro, Dinamarca e França jogaram uma partida extremamente fria, com reservas, e empataram, resultado que dava a um a classificação e a outro, o primeiro lugar. Segundo, Japão acabou seu jogo com a Polônia sob vaias por não atacar: os cartões amarelos (critério fair play) lhe davam uma vaga sobre Senegal.

Terceiro, Bélgica e Inglaterra não armaram nada, mas botaram reservas em campo em jogo que definia o primeiro lugar do grupo, que deve pegar um lado mais forte na chave da Copa do Mundo (foi a Bélgica). Todas essas são situações que tiraram a competitividade das partidas para dizer o mínimo.

Pois bem, a partir de 2026, nos EUA, México e Canadá, a Copa terá 48 seleções, com grupos de três times e dois classificados. Isso significa que aumentará consideravelmente a chance de duas equipes jogarem a última partida com a possibilidade de armarem um resultado para obterem a vaga.

É o que mostrou em um artigo recente no "New York Times" o matemático francês Julien Guyon. Sua tese aponta que há três situações em que os dois times que jogarem por último podem armar um resultado específico que classificaria a ambos. Claramente, a equipe que jogasse as duas partidas primeiro seria prejudicada, pois poderia sofrer uma manipulação na última rodada.

Nos cálculos de Guyon, um grupo com um time bem mais forte sendo o primeiro a atuar duas vezes teria uma chance de menor de armação, em torno de 15%. Se a tabela não fosse assim, as chances seriam de 50%. No geral, com 16 grupos disponíveis, a abertura para a manipulação seria bastante provável.

A Fifa já cogitou pênaltis para não ter empates já na fase de grupos, o que não eliminaria completamente a possibilidade de armação.

A verdade é que as implicações da Copa com 48 times ou não foram consideradas ou foram minimizadas. Se há questionamentos sobre armação com o regular grupo de quatro, imagine com três equipes e todas suas variações. O que a Fifa poderia enfrentar seria uma nova situação como a da Copa de 1982 em que houve claros sinais de armação entre Alemanha e Áustria, em uma vitória alemã que eliminou a Algéria e classificou ambos.

Em um mundo que reputações são destruídas rapidamente, teria um efeito devastador sobre a Copa que uma partida da fase de grupos acabasse de novo com um empate sem ninguém atacando, ou uma vitória em que o time perdedor parecesse pouco se importar. Poderia levar um descrédito à competição difícil de recuperar. Será que os bilhões a mais que a Fifa vai ganhar com o Mundial de 48 times valem esse risco?

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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