CBF enfrenta gargalos por VAR no Brasileiro: custo alto, Globo e equipe
rodrigomattos
22/11/2018 04h00
Durante seminário sobre VAR realizado pela CBF, ficou claro que há consideráveis desafios para entidade implantar o árbitro de vídeo para o Brasileiro-2019 apesar da pressão de clubes. Entre as barreiras estão: o custo básico é alto, ainda há ajustes na equipe (árbitros e operadores de vídeo) e não existe um acordo feito com a Globo. O congresso serviu para IAFB (International Board) e Fifa darem instruções e sugestões às federações estaduais e à confederação sobre o sistema e protocolo.
Acompanhando a implantação do VAR no Brasil há dois anos, o gerente de serviços da IAFB, Dirk Schlemmer, vê bastante evolução no país, mas entende ser um desafio expandir o uso para todo o Nacional. "Não posso dizer se estão prontos. Mas não estou preocupado porque mostraram capacidade. É um grande desafio realizar isso no campeonato", analisou.
Em sua palestra, Schlemmer tratou de questões financeiras e legais para implementar o VAR. Segundo ele, os custos do árbitro de vídeo em campeonatos inteiros variam entre US$ 250 mil e US$ 5,5 milhões (R$ 21 milhões), dependendo da sofisticação. Ele ressaltou que não dá para estimar o custo de cada liga porque elas têm condições "bem diferentes".
Mas há uma diferença grande para o primeiro orçamento feito pela CBF para o Brasileiro 2018. Na ocasião, foi informado aos clubes que teriam de arcar com R$ 20 milhões por turno, R$ 50 mil por jogo. Ou seja, o campeonato inteiro sairia por quase o dobro do mais caro analisado pela IAFB.
"Não dá para compara com o Brasil pelo tamanho continental", afirmou o diretor de VAR da CBF, Ricardo Bretas. Ele ainda está desenhando o projeto de árbitro de vídeo para 2019 para encontrar o de menor custos. "O objetivo é reduzir custo para clubes e CBF". Haverá uma concorrência entre empresas.
Uma das ideias em análise é fazer um centro de VAR fixo, como fez a Rússia na Copa do Mundo, o que reduziria custos de viagens e instalações. Mas o problema é a qualidade da fibra ótica no Brasil pode deixar muito lenta a chegada das imagens à central e inviabilizar o imediatismo necessário do mecanismo.
Esse é só um dos desafios técnicos. A CBF terá de encontrar operadores de vídeo experientes e não há tantos no mercado. A Globo nunca quis ceder os seus para não se envolver na operação, apenas na cessão das imagens.
Outra questão é a do número de árbitros. Atualmente, a CBF já treinou 98 árbitros, e outros passaram por treinos da Fifa. Assim, a soma total é de 106 deles preparados. É suficiente. mas isso obrigará a repetição de escalas.
"Teremos que fazer a escala com antecedência, e não vai dar para tirar (um árbitro) por um erro", contou o coordenador do VAR no Brasil, Sergio Corrêa.
Uma terceira questão é o acordo a ser feito com a Globo que cederá as imagens. Schlemmer ressaltou que é essencial acertar um contrato com a emissora transmissora do evento. A Globo, no entanto, não tem contrato com a CBF para o Brasileiro, o que é feito diretamente com os clubes.
Bretas disse que ainda não se iniciou uma negociação com a emissora para tratar da questão. Só foi conversado sobre a Copa do Brasil que teve VAR pela primeira vez neste ano. Em 2017, quando se tentou uma implantação rápida do VAR, as conversas com a Globo chegaram a travar na questão da operação.
Em relação a câmeras, não deve haver problema. O mínimo exigido pelo protocolo da Fifa é de quatro câmeras. A Globo costuma usar um número entre sete e 17 equipamentos dependendo da qualidade do jogo. Não há problema ter um número diferentes de câmeras por jogo, segundo a IAFB.
Apesar do desafio, especialistas da Fifa e da IAFB viram evolução no VAR usado no futebol brasileiro. "Foi uma surpresa porque a Fifa não tinha visto a empresa que trabalhou aqui. Mas ficamos positivamente impressionados. Quando pedimos ajustes pequenos, no dia seguinte, já tinham feito", afirmou Sebastien Runge, chefe do departamento de tecnologia e inovação do futebol da IAFB/Fifa.
Na reta final do Brasileiro, o Inter levou uma petição com a assinatura da maioria dos clubes pedindo o árbitro de vídeo para o próximo Nacional. Naquela ocasião, a CBF disse que não estava pronta para implantar naquele momento. Mais do que isso, clubes que assinaram como o Corinthians, por exemplo, dizem que só aceitam se a CBF pagar.
Em 2018, foi recusado pela maioria dos clubes por conta dos custos. Agora, o projeto da CBF ficará pronto para ser mostrado no Conselho Técnico da Série A, em 2019, para decidir se o VAR entra ou não no Brasileiro.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.