Sabemos fazer operação como final em Madri, diz diretor da Libertadores
rodrigomattos
22/12/2018 04h00
Entidades e clubes na América do Sul são capazes de fazer uma operação de segurança eficiente como a realizada na final da Libertadores em Madri entre River Plate e Boca Juniors. Basta ter vontade política para isso. Quem faz essas afirmações é o diretor de competições da Libertadores, Frederico Nantes, em entrevista ao blog. Lembre-se que o jogo foi para a capital europeia porque jogadores do Boca foram agredidos quando chegaram para o segundo confronto da decisão no estádio do River, o Monumental de Nuñez.
Nantes espera uma reducação na violência em jogos das competições sul-americanas a partir da implantação do novo regulamento de segurança em 2019. Para ele, o problema de torcedores violentos na América do Sul não é maior do que o da Europa. Com a implatação de novos procedimentos e padrões de segurança, portanto, acredita que a questão pode ser resolvida a longo prazo.
O dirigente ainda disse que a Conmebol não tem como interferir nas punições a clubes envolvidos em incidentes violentos como foi o caso do River Plate. Mas ressaltou que o time argentino recebeu a pena mais dura possível em termos de multa.
Blog – Vimos um discurso duro de Alejandro (Dominguez, presidente da Conmebol) com autocrítica sobre os incidentes da final. O que dá para fazer de diferente na Libertadores para evitar esse tipo de incidente?
Frederico Nantes – A gente tem um passo muito grande com a aprovação do regulamento de segurança na reunião do Conselho em novembro. Passa a ser implantado em 2019, passa a ser integrante do regulamento. Tem procedimentos e regulamentações mais duras de segurança e deixa de ser um capítulo do regulamento da competição e torna-se um livro separado. Os oficiais de segurança das associações nacionais e os clubes vão ter formação dessas pessoas na Conmebol. É um processo que não acontece do dia para a noite. E começa já em janeiro do próximo ano com a formação essas pessoas. Clubes vão ter que investir em infraestrutura, na adequação de seus estádios.
Blog – Já esperam efeitos em 2019?
Nantes – Claro que não vamos conseguir todos os resultados em um ano. Nem todas as medidas vão ser implantadas em 2019. Tem coisas que são para 2020, tem coisas para 2012. Tem coisas que exigem adaptações em estádios. Então não podemos exigir coisas que foram aprovadas no regulamento em novembro de 2018 sejam implantadas já em janeiro de 2019.
Blog – Vocês (Conmebol) estão evoluindo na questão de procedimentos. Mas a questão é que, quando escapa e há um fato para a punição, sabemos que é o tribunal de disciplina que pune. Embora não seja da alçada da Conmebol, e sim do tribunal, talvez o regulamento tivesse que ser mais duro. Por exemplo, clubes brasileiros acharam branda a punição ao River…
Nantes – A pena que o River teve foi a pena máxima que pode ter pelo nosso regulamento disciplinar. Se o nosso regulamento tem uma multa baixa, de US$ 400 mil, essa é a multa máxima que se pode aplicar pelo estatuto da Conmebol, a qualquer pessoa física ou jurídica.
Blog – Mas e o número de jogos com portões fechados?
Nantes – Isso é realmente uma decisão do tribunal disciplinar. Mas foi a maior punição…
Blog – Houve uma punição maior para o Boca com oito jogos que caiu para dois jogos…
Nantes – Essa foi a maior punição em vigor pelo tribunal disciplinar. É um tribunal independente. Usa como jurispurdência outros casos semelhantes nas definições das punições. Mas não é algo que nós temos ingerência na definição das punições.
Blog – Quando o Alejandro fez uma autocrítica em seu discurso, o que vocês entendem que foi um erro da Conmebol na final (River e Boca)?
Nantes – Não sei se estavam se referindo è final.
Blog – Ele falou que houve erro da Conmebol, houve erro dos clubes…
Nantes – Não sei se estava se referindo à final. A gente sempre tem coisas para melhorar. Todas as orgnizações têm coisas para melhorar. Quando a gente não tiver coisas para melhorar, podemos voltar para a casa. Sou uma pessoa bastante autocrítica. A Libertadores e a Sul-Americana têm muito para crescer. É um desafio estar aqui e vim aqui para o Paraguai porque tem espaço para melhorar. Mas não sei se o presidente falou de erros na final.
Blog – E você entende que houve erros da Conmebol na final?
Nantes – Não sei se tem erros, mas tem pontos que podem melhorar para o próximo ano, tanto da Conembol quanto pelos clubes.
Blog – Não sei se a inspiração que vocês tiveram em Madri serve de exemplo do que se poderia fazer aqui?
Nantes – O que foi feito em Madri não é em nada diferente do que se fez em todos os jogos da Copa do Mundo no Brasil. A operação que fez na final da Libertadores a gente sabe como fazer. Só que é uma operação que no futebol europeu é usual, normal, fazer toda a semana. E nós não temos essa cultura de fazer toda semana. Isso que é a mudança de cultura que temos que fazer na América do Sul. É algo que não sabemos fazer? De forma alguma, não é que não se saiba fazer. Se pode fazer.
Blog – O problema de violência de torcida é maior na América do Sul do que na Europa na sua visão?
Nantes – Não acredito. Acho que é uma questão de vontade política de fazer as coisas. A Europa tem problemas seríssimos (de torcida). É a forma como se trata isso e como se encara isso para resolver. Não entendo que o nosso problema com as torciads organizadas seja mais grave ou menos grave do que o da Europa.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.