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Fla x Santos mostra caminho para Brasil reduzir diferença da Europa

rodrigomattos

15/09/2019 04h00

É de um colonialismo atroz entender que tudo que vem do futebol europeu é historicamente superior ao que produzimos aqui. É também uma questão de pragmatismo reconhecer que o futebol por lá evoluiu bem mais do que o nosso nos últimos 15 a 20 anos e que está em um patamar mais elevado. Dito isso, o jogo entre Flamengo e Santos dá um caminho de como reduzir o abismo que se impôs entre nós.

Uma análise meio rasa dirá que foi uma partida sem emoções, poucas chances de gol, portanto um jogo ruim. Nada poderia estar mais longe da verdade. Houve confrontos táticos, inteligência de ambos os lados na construção de estratégias, qualidade técnica. Foi possível desfrutar do que Jorge Jesus e Jorge Sampaoli prepararam para seus times.

De início, mantendo a ideia da mobilidade total em seu ataque, Jesus jogou Bruno Henrique para direita para a posição que supostamente não lhe é natural, Aparentemente, tentava explorar as subidas do lateral-esquerdo Jorge.

Mas Sampaoli armou seu Santos com três zagueiros, e um deles pela esquerda como já fizera pela direita em outras ocasiões. O sistema variava para um 4-4-2 quando Victor Ferraz recuava para compor a linha. No ataque, abriu Marinho colado na linha extrema o que impedia Filipe Luís de armar pelo meio. Bloqueava o Flamengo.

A marcação de ambos os times era alta, e bem feita. As duas defesas tinham enorme dificuldade para achar linhas de passes para sair pelo chão, como é costume de ambos os times. No Flamengo, Diego Alves passou a dar chutão à procura de Bruno Henrique. No Santos, Everson começou a vacilar.

Sim, houve poucas chances de gol porque os espaços eram escassos e disputados palmo a palmo, ainda que não houvesse uma retranca. Foi em uma retomada de bola de Everton Ribeiro que este lançou Gabigol para ele achar um chute iluminado por cima do goleiro santista.

Everton, diga-se, foi possivelmente o melhor jogador em campo com sua movimentação entre as linhas santistas, com seu ímpeto constante de achar espaços em um jogo onde estes eram raros. É um meio-campistas desses que enxerga um passo além dos outros.

Na volta do intervalo, o gol fez bem ao Flamengo. O Santos continuava querendo jogar, principalmente com Marinho e Soltedo abertos, mas lhe faltava ser mais incisivo na área, mais presença no setor em que se conclui o jogo. Ao final da partida, o time de Sampaoli não tinha nem uma conclusão de fato perigosa a gol. É uma falha grave ainda que o time tenha disputado bem a partida.

Ao Flamengo, não faltaram construções de jogadas no segundo tempo com um Santos mais cansado para executar todas as pressões e coberturas exigidas pelo sistema de Sampaoli. Bruno Henrique arrancou pela direita e pela esquerda com sua fase e velocidade incomuns. Poderia até ter levado Gustavo Henrique, ótimo zagueiro santista, à expulsão se o árbitro fosse mais rigoroso.

Enfim, haverá quem lamente apenas um gol em um duelo tão esperado. Pois poderíamos lembrar que uma das críticas mais comuns aos dois técnicos Jesus e Sampaoli era de que suas defesas ficavam expostas. Tornaram-se das defesas mais difíceis de se penetrar desse campeonato, embora joguem em linha altíssima, sempre no meio-campo quando seus times atacam, sempre pressionadas e precisando cobrir espaços com precisão. E cumpriram na maior parte do tempo isso com louvor.

Para não dizer que só falei de flores, houve um excesso de erros técnicos das duas equipes em determinado momento, de passes, de lançamentos. Mas o saldo é amplamente positivo.

Em sua coletiva, Jesus afirmou que se tratou de um duelo no padrão de um jogo de Manchester United ou Real Madrid, citando gigantes europeus. Talvez tenha exagerado. Fato é que o que se apresentou no Maracanã indica que nosso futebol, mesmo mais pobre financeiramente, pode produzir mais e reduzir a diferença de forma significativa se bem conduzido do banco.

 

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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