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Por que os clubes estão amarrados para rejeitar convocações

rodrigomattos

22/09/2019 04h00

A CBF fez uma convocação tripla de seleções na sexta-feira que provocou uma limpa de bons jogadores no Brasileiro: serão 18 desfalques. No debate sobre os prejuízos aos clubes, houve o argumento recorrente de que os dirigentes dessas agremiações nada fazem para mudar o calendário. Bem, pelas regras vigentes, os clubes nada podem fazer.

Vamos aos dados. Primeiro, é da CBF o exclusivo direito de organizar o calendário anual de eventos e competições – está estabelecido no artigo 12o, inciso V, do estatuto da entidade. A CBF é obrigada a respeitar o calendário da Fifa, mas não é proibida de marcar jogos nesta data.

Por que os clubes não interferem pela mudança do calendário? Há uma comissão de clubes formada na CBF. O texto do estatuto deixa claro que trata-se de um órgão de mera "cooperação". Sua função? "Fazer sugestões" para equilíbrio, modernização e integridade da competição ou organização. Não tem poder de decisão nenhum e não apita sobre calendário. Nunca vi em meus 20 anos de carreira cobrindo o poder do futebol a CBF convidar um clube para opinar sobre o tema.

Por que os clubes então não votam em outro presidente da CBF que mude isso? O estatuto da CBF estabelece que os votos das federações valem três, somando um total de 81. Os clubes das Séries A e B têm pesos dois e um, com total de 60 votos. Juntos, não batem as federações. E ainda há uma cláusula de barreira que exige oito federações para inscrever chapa.

Por que os clubes não fundam uma liga e fazem suas competições? As ligas, pelo estatuto, estão submetidas ao calendário da CBF, assim como suas regras. Sem autorização, são ilegais no sistema esportivo.

Então os clubes deveriam peitar a CBF e não liberar os jogadores. A liberação dos jogadores em datas-Fifa é determinada por regulamento da Fifa. Jogadores que não sirvam suas seleções estão vetados de jogar no período pelos clubes, portanto, irregulares. O desrespeito às regras da Fifa, segundo o estatuto da CBF, pode levar à punição até com suspensão dos clubes.

Dito isso, individualmente, os clubes não podem fazer nada além de reclamar. Só poderão questionar juridicamente os jogadores da seleção sub-17 porque não se trata de Data-Fifa. Neste caso, o STJD já lhes deu razão.

A única forma de peitar a CBF seria se todos os clubes juntos se unissem por mudanças. Neste caso, a entidade não teria força política para impor sanção para todos. Individualmente, o máximo que os clubes podem fazer é lamentar ou peitar a entidade e correr o risco de uma punição severa. Será que todos os clubes vão peitar a CBF por um novo calendário se uma parte grandes deles é beneficiada pelos desfalques dos outros?

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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