Não adianta ao Palmeiras apenas copiar o modelo do Flamengo
rodrigomattos
02/12/2019 04h00
Após anunciar a demissão de Alexandre Mattos e Mano Menezes, após mais uma derrota para o Flamengo, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, disse que a reformulação do futebol do clube passará por "uma forma diferente de ver futebol". Demorou para a diretoria palmeirense perceber que o futebol brasileiro tinha mudado com a campanha rubro-negra. Ao tirar Felipão, ele escolhera Mano que representava mais do mesmo com poucas alterações. Pois bem, e qual o caminho para o alviverde agora?
É normal em uma liga nacional que um time muito bem-sucedido em uma temporada se torne exemplo para os outros no ano seguinte. Ocorre na Europa, no Brasil e virtualmente em qualquer lugar do mundo. E não há nada de errado nisso, é preciso aprender com os acertos dos outros.
Por exemplo, parece óbvio que o Palmeiras vai buscar agora um tipo de técnico que faça seu time jogar um futebol mais ofensivo e dominante, ao contrário do jogo reativo de Felipão e Mano. E é bem possível que procure em um treinador estrangeiro esse caminho por serem poucos os capazes de fazer isso entre os brasileiros – o colega PVC publica que Jorge Sampaoli já foi sondado. Ou seja, repetiria algo parecido com o Flamengo com Jorge Jesus. Esse movimento, se confirmado, faz total sentido.
Assim como é lógico que o Palmeiras tente contratações de jogadores para serem protagonistas, titulares, para a campanha de 2020. Substituiria assim a política de Alexandre Mattos de levar vários atletas promissores para o clube e depois ir testando os para ver quais se encaixam, ao mesmo tempo em que os valoriza para revenda. Também será uma adaptação do que fez o Flamengo nesta temporada.
Só que essas são linhas gerais: a forma como se executa um plano é tão importante quanto o próprio plano. E um exemplo está exatamente na experiência de Palmeiras e Flamengo em papéis trocados ao final de 2018. Com o título alviverde, a diretoria rubro-negra foi atrás de Abel Braga, que era um técnico medalhão, meio paizão, meio sanguíneo, e que adora um contra-ataque. Era o perfil do Felipão campeão brasileiro no ano passado.
Ao assumir o time, como o colega Felipão, Abel Braga montou dois times, A e B, para levar o Flamengo durante a temporada, poupando jogadores para jogos que considerava mais importantes. Bom, como se sabe, o plano deu completamente errado, o trabalho dele não vingou e o técnico português Jorge Jesus que o substituiu fez tudo diferente, futebol ofensivo, ninguém poupado, etc. E foi a partir daí que o futebol rubro-negro andou.
Portanto, a repetição de uma fórmula que foi vencedora pura e simplesmente não significa que isso vai voltar a se repetir. Houve muito mérito da diretoria na montagem do time do Flamengo, mas houve uma situação excepcional com uma conjunção de fatores positivos que se alinharam, o técnico certo, jogadores que já chegaram atuando bem, um modelo de jogo que encaixou. Com isso, um time montado em 2019, uma parte dele no meio do ano, já vingou.
Ora, não é o normal que isso ocorra, está claro que este Flamengo é uma exceção – e ainda lembremos que o time carioca já vinha jogando ofensivamente há três anos, ainda que com resultados e trabalhos inferiores. Então, se o Palmeiras engatar uma nova filosofia, não será surpreendente se demorar mais para o trabalho dar frutos. Ao mesmo tempo, Sampaoli, por exemplo, já provou ser capaz de estruturar um bom time em uma mesma temporada como fez no Santos. Mas vai enfrentar um rival provavelmente já montado.
A diretoria alviverde, portanto, tem que estar certa da escolha do seu novo caminho para insistir nele mesmo que os resultados não venham de cara. Até porque, embora seja um clube com mais recursos do que a maioria no Brasil, o Palmeiras tem seus limites para investimentos, assim como tem o Flamengo. Terá portanto de ser certeiro em contratações como não foi em 2019 quando apostou em diversos jogadores que não deram resultado – e no final acumulou déficits. O rival rubro-negro também gastou bastante, mas, como acertou, já tem um elenco montado.
Por fim, quando escolher seu novo caminho para o futebol, o Palmeiras também tem que resolver quem define esse caminho. Galiotte é o presidente, mas a demissão de Mano foi anunciada pela patrocinadora e dona da Crefisa, Leila Pereira, em seu twitter. Não ficou claro ali se tinha se antecipado ou se tinha participado da decisão. Fato é: um clube, no mínimo, tem que saber quem define o seu Norte.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.