Como Red Bull criou no Bragantino um modelo diferente de clube-empresa
rodrigomattos
07/01/2020 04h00
Clube que mais investiu até agora na janela de transferências, o Red Bull criou uma expectativa entre torcedores de que a implantação de empresas pode gerar potências financeiras no futebol brasileiro. Mas o modelo empresarial implantado pela multinacional de bebidas energéticas é bem diferente do que se viu até agora no Brasil, seja em estruturação, seja na forma como é gerido. Por isso, é difícil replicar seu exemplo em outros locais.
Pelos registros da CBF, existem 83 clube-empresas, com outros 1.347 clubes associativos, portanto sem fins lucrativos. As instituições com formato empresarial têm como principal diferencial o fato de terem donos e pagarem impostos como empresas, isto é, sofrem maior tributação. Há alguns casos de empresas com contratos com os clubes-associativos em acordos que lhes dão a gestão do futebol.
O modelo do Red Bull foi estruturado com a compra do clube-associativo Bragantino pela empresa, ou seja, todos os títulos de sócios foram adquiridos. Foi escolhido um clube que já tinha vaga no Brasileiro da Série B e que tem uma estrutura montada, estádio e tradição no futebol.
A partir daí, foi criada uma outra empresa cujo dono é a multinacional da Red Bull, com sede na Áustria. Essa firma recebe o dinheiro da Europa para investimento e tem contrato o Bragantino para gerir todo seu futebol. São totalmente independentes do Red Bull Brasil que ficou com a vaga na Segundona do Paulista.
É um modelo provisório. Em um futuro, a Red Bull vai efetivamente transformar o Bragantino em empresa. A intenção é ter uma estrutura empresarial pagando impostos independentemente da aprovação ou não do projeto de clube-empresa no Congresso.
A empresa pertencerá ao conglomerado da Red Bull que detém times nos EUA e na Alemanha. O projeto é igual ao que ocorre nesses outros países: tem como objetivo provar que é possível fazer uma gestão moderna e diferente do que vinha sendo feita no futebol no Brasil. Isso está associado diretamente ao marketing da venda de bebidas. Ou seja, é um investimento de dinheiro para obter principalmente retorno de marca associado ao Red Bull como dono do empreendimento, em vez de como patrocinador.
A eficiência da gestão passa pelas contratações de jogadores jovens que possam render acima do que foi gasto e depois possam ser revendidos. Assim, o negócio se torna sustentável enquanto há divulgação da marca. Mas, para o projeto, é importante o resultado esportivo, justamente para provar a eficiência da gestão.
Não por acaso há um investimento de R$ 200 milhões para esta primeira temporada da Red Bull na Série A, com jogadores como Arthur, Alejandro e Tonny Anderson. O valor é inferior ao investido no projeto alemão e uma parcela ínfima de outros projetos como o da equipe da Fórmula 1. Oficialmente, a diretoria do Red Bull diz que o objetivo é apenas ficar na Série A. Internamente, há pelo menos um plano de chegar até uma vaga na Sul-Americana e, talvez com um desempenho acima do esperado, a um posto na Libertadores já em 2020.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.