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Rodrigo Mattos

Crise no futebol brasileiro já reduz salários de jogadores em negociações

rodrigomattos

11/12/2014 05h00

Um jogador de renome já planejava a saída do Fluminense quando se desenhava o rompimento com a Unimed. Foi ao mercado se oferecendo por salário similar ao que recebia no tricolor. Ninguém topou. Abaixou o valor, mas ainda assim não fechou. Nenhum clube aceitava pagar mais de R$ 300 mil, nem quando a diferença era pequena. O atleta ainda está sem time.

A história ocorrida nestes últimos meses de 2014, cujo protagonista não é revelado a pedido da fonte, é simbólica do novo momento do futebol brasileiro. Em meio à crise econômica, os salários de jogadores têm caído de forma significativa em renovações e novas contratações. Foi o que o blog ouviu de diversos participantes do mercado, entre empresários e clubes.

Essa é a segunda matéria sobre os problemas financeiros do setor, em continuidade à anterior que mostrou o estouro da bolha do futebol com a asfixia de receitas dos clubes pela falta de patrocínios e parceiros.

Até 2013 era fácil ter dois ou três atletas com vencimentos de R$ 500 mil em um time, mas agora só exceções receberão acima de R$ 300 mil. Pagar em dia, ou pelo menos atrasar pouco, virou trunfo após séries de calotes durante o ano de 2014. E uma debandada de jogadores pode deixar o Brasil para mercados mais atrativos.

"Estou sentido que cada renovação está sendo difícil. Essa proibição de investidor da Fifa deu uma segurada no mercado. O salário vai cair e não vai ter quem investir. Não vejo com bons olhos o que está acontecendo", contou Roberto Monteiro, representante do grupo DIS, que é procurador de jogadores e tem direitos sobre alguns deles.

"Varia bastante de contrato para contrato. Quem estiver livre até pode negociar mais. Mas o Brasil vai começar a perder jogador para o exterior. Muitos vão voltar para a Europa. O fluxo para o exterior vai aumentar. Eu mesmo estou saindo para Europa para ver a negociação de dois atletas (do Brasil)", contou o empresário Marcelo Robalinho, da empresa Think Ball.

"Toda negociação tem um orçamento, o pagamento dos direitos, os salários e as comissões. Se o clube não tem ajuda nos direitos, isso vai impactar o salário", analisou o empresário e advogado Marcos Motta, que vê os clubes bem cautelosos nos acertos. "Pagar em dia será um grande diferencial diante dos atrasos que ocorreram no ano."

Dos cartolas, o blog ouviu que, nas negociações iniciais, os jogadores continuavam a pedir os mesmos valores do final do ano passado. Mas sofreram seguidas recusas e, aos poucos, têm abaixado as requisições. Até os dirigentes admitem que os últimos anos formaram um período de valores salariais fora da realidade do país.

Representantes do Bom Senso FC, grupo que reúne jogadores, também já verificaram a mudança no mercado com quedas de vencimentos. Não há nenhum levantamento oficial, mas a percepção do grupo é que se acentuaram os casos de atrasos durante 2014. Na dureza que se espera para o próximo ano, é hora de apertar os cintos para todos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.