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Rodrigo Mattos

Conmebol vendeu tabela e jogadores da Copa América por suborno a cartolas

rodrigomattos

06/05/2016 13h44

Em troca do pagamento de subornos a cartolas, dirigentes da Conmebol permitiram que a Traffic mandasse em toda a Copa América. A empresa tinha direito a definir formato da competição, a tabela e a exigir os melhores jogadores das principais seleções como Brasil e Argentina. Essa informação nova do "caso Fifa" consta do meu livro "Ladrões de bola", lançado nesta semana, pela editora Panda Books.

Reprodução da capa do livro

Reprodução da capa do livro "Ladrões de bola"

Durante a apuração do livro, obtive o processo judicial nos EUA movido pela Traffic contra a Conmebol, em 2011, em disputa pelos direitos da Copa América. Nestes documentos inéditos da ação, há o contrato de venda de direitos de televisão da competição que dá todas essas prerrogativas à empresa em clara interferência no maior campeonato das Américas.

Lembre-se: os três ex-presidentes da Conmebol, Nicolás Leoz, Eugenio Figueredo, e Juan Angel Napout, são acusados na Justiça dos EUA de levar propinas de empresas para lhes garantir direitos sobre a Copa América e Libertadores. Dirigentes brasileiros como o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também estão entre réus pelo mesmo motivo.

Os documentos obtidos por mim no livro mostram que a Copa América representava 80% da receita da Traffic. Por isso, a empresa processou a Conmebol quando esta lhe tirou esses direitos para dar para a Full Play, que prometia mais subornos. Na ação civil nos EUA, a confederação sul-americana chegou a recorrer à Fifa para tentar vencer a ação. Mas, por carta, o então secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke se recusou a se envolver no processo.

Veja abaixo o trecho do livro sobre os contratos da Traffic para a Copa América:

"Para a Traffic, o negócio era imensamente lucrativo, tanto que estendeu seus braços para criar filiais nos Estados Unidos: duas empresas passaram a gerir de lá boa parte dos acordos pela competição. "A Traffic construiu o seu negócio e reputação em promover e fazer o marketing da Copa América e da venda exclusiva dos direitos comerciais, de TV e de patrocínio. A Copa América é a pedra fundamental do negócio da Traffic", explicam advogados da empresa em ação judicial contra a Conmebol movida em 2011 por disputa de direitos relacionados à competição. A estimativa era de que o torneio gerava 80% da receita da empresa brasileira. Não era à toa que Hawilla, no início do novo milênio, passou a dar pouca importância aos seus contratos com a CBF, que tinham se tornado secundários para a agência de marketing.

Com todos ganhando dinheiro de várias fontes, era natural que a rela-ção se estendesse. Por isso, a Conmebol e a Traffic renovaram os contratos em 2001, prevendo a venda dos direitos de marketing, comerciais e televisivos das três edições seguintes da Copa América: pelo novo acordo, a empresa se manteria "dona" do campeonato até 2015. As propinas pagas a Leoz, com o incremento da renda, saltavam para sete dígitos, isto é, pelo menos 1 milhão de dólares. Além dos subornos, a empresa aceitava pagar um total de 46 milhões de dólares por três edições do torneio, chegando a um valor de 18 milhões de dólares pela última edição, a de 2009.

Em troca desse dinheiro e das propinas, a Traffic tinha total controle sobre a Copa América, como fica claro no contrato da competição disponí-vel no processo judicial entre as partes. Os locais de todos os jogos tinham que ser aprovados pela empresa. O formato do campeonato já estava prede-finido, com 12 times divididos em três grupos de quatro e quartas de final. A Conmebol era obrigada a garantir que os melhores jogadores de cada se-leção pudessem atuar. Os estádios deveriam estar limpos e sem publicidade local para que a empresa pudesse explorá-los da melhor forma que lhe conviesse. Todos os patrocinadores e fornecedores seriam escolhidos pela agência brasileira. O total de 13 itens seria cedido à Traffic pela Conmebol, com exceção da bola."

PS: O livro pode ser comprado (R$ 35,90) no site da editora Panda Books: https://pandabooks.websiteseguro.com. Se houver dificuldade com o link, é só digitar o domínio: www.pandabooks.com.br

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.