Na Justiça, Sadia diz que foi lesada por escândalos de corrupção na CBF
Em ação na Justiça do Rio, a BRF (Sadia), ex-patrocinadora da seleção, afirmou ter sido "ardilosamente lesada" pelos escândalos de corrupção na CBF. O processo é relacionado a uma acusação da confederação de marketing de emboscada contra o antigo parceiro. Em sua defesa, a empresa disse ter sido obrigada eticamente a romper o contrato com a entidade.
A rescisão do compromisso entre a CBF e Sadia foi anunciada em janeiro deste ano. Oficialmente, a empresa afirmou que "a decisão ocorre no momento em que a marca está reavaliando sua estratégia de patrocínio". Mas o rompimento foi menos de dois anos após a assinatura de contrato até 2022.
Em maio de 2015, pouco depois do compromisso ser firmado, o vice-presidente da entidade José Maria Marin foi preso na Suíça acusado de levar propina em contratos da entidade. Depois, foi extraditado para os EUA. Em dezembro do mesmo ano, o Departamento de Justiça norte-americano indiciou o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também por receber subornos em acordos da confederação. Ele nunca mais viajou e continua no poder.
Extraoficialmente, havia um indicativo de que a Sadia tinha rompido seu contrato por conta desses problemas. Isso fica claro na posição da empresa nos tribunais cariocas. Apesar do processo estar em segredo de Justiça, é possível ler a defesa da Sadia na sentença do juiz sobre o caso em outubro de 2016:
"Regularmente citada, a ré (Sadia) ofereceu contestação (fls. 603/639), alegando no mérito, em resumo, que em maio de 2015, menos de dois anos após a celebração do contrato mencionado na inicial, foi surpreendida por graves escândalos de corrupção envolvendo a autora (CBF), amplamente divulgados na época e de notório conhecimento público; que não bastasse estar ardilosamente lesada em sua posição de patrocinadora, por fatos que superam os riscos do mercado e não condizem com sua imagem ilibada, estava eticamente obrigada a se desligar da autora (CBF)."
A Sadia ainda informou que, após pagar a última parcela do distrato em dezembro de 2015, insistiu com a CBF para divulgar o final da parceria para desligar sua imagem da entidade. E que decidiu anunciar o rompimento porque a confederação não cumpriu o acordo de fazê-lo conjuntamente.
"É uma alegação de má fé. Sabem que não foi por causa disso (acusações de corrupção). Segundo eles, estavam redirecionando os seus patrocínios para outro setor que não o esporte. Além disso, houve uma queda de receitas da empresa", afirmou o advogado da CBF, Carlos Eugênio Lopes.
Na Justiça, a confederação afirmou que a Sadia cometeu marketing de emboscada ao promover um mascote com o uniforme igual ao da seleção em sua campanha como patrocinadora da Rio-2016.
"Afirma que pelo contrato a ré seria a única empresa do setor alimentício que poderia se associar à seleção brasileira e aos seus símbolos. Aduz que estava previsto no contrato que uma das prerrogativas da ré era a confecção e distribuição de brindes contendo símbolos da autora. Assevera que no início do ano de 2016 a ré optou por cancelar o contrato com a autora. Argumenta que recentemente a ré lançou a campanha ´meu mascote da sorte´ onde o mascote do futebol está vestido com uma clara imitação do uniforme da seleção brasileira de futebol. Diz que na campanha publicitária é dado maior destaque ao mascote do futebol que aos demais mascotes. Sustenta que se trata de marketing de emboscada", diz o trecho da sentença.
A sentença do juiz Alexandre de Carvalho Mesquita, da 1a Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, foi favorável à Sadia, alegando que não houve marketing de emboscada. Ao comentar a defesa da empresa, ele assim classificou as acusações de corrupção da CBF: "Tal fato é incontroverso, uma vez que noticiado pela imprensa nacional, não merecendo maior análise."
Antes, o magistrado dera uma liminar para a entidade para impedir a campanha da Sadia, mas depois a derrubou. Lopes informou que a CBF irá recorrer da decisão de primeira instância.
Logo após Del Nero ser indiciado pelo FBI por corrupção, a Sadia não quis comentar a situação como patrocinadora. Já a Proctor & Gamble deixou de patrocinar a CBF alegando prejuízo por casos de corrupção na entidade. A Petrobras ainda deixou de comprar placas da Copa do Brasil pelo mesmo motivo. Atualmente, a confederação tem 11 patrocinadores, contra 14 na Copa-2014.
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