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É justo o Cruzeiro montar times sem pagar enquanto outros fazem contas?

rodrigomattos

06/01/2019 04h00

Durante a semana houve grande discussão em relação às propostas feitas pelo Flamengo ao Cruzeiro pelos jogadores Arrascaeta e Dedé. As perguntas mais ouvidas em TVs e redes sociais eram: O clube carioca poderia abordar jogadores sem avisar o time mineiro? Um investidor pode interferir em um clube? Jogador tem direito de tentar forçar a saída?

Embora esses sejam todos questionamentos pertinentes, uma outra discussão importante ficou esquecida: é justo o Cruzeiro montar um time com contratações milionárias, ganhar títulos e não pagá-las enquanto os outros se esforçam para quitar suas contas? Como ficam os times que calculam na ponta do lápis (ou do computador) para fazer cada contratação caber no orçamento?

Para contextualizar, Arrascaeta foi contratado pelo Cruzeiro em 2015 por oito milhões de euros. Só que, deste total, o clube pagou um percentual bem pequeno. Primeiro, o clube ficaria com 50%. Depois, foi cedendo percentuais por não pagar. Ao final, ficou com 25% sendo que boa parte não paga tanto que o Defensor cobra dívida na Fifa.

É até difícil saber quanto de fato o clube pagou, mas certamente foi um percentual pouco significativo do total. Ora, Arrascaeta jogou pelo Cruzeiro esses três anos e fez uma diferença técnica significativa a favor do clube, como se pode até perceber pela tentativa de segurá-lo. Isso praticamente sem investimento real do Cruzeiro.

E o vice de futebol do Cruzeiro, Itair Machado, argumenta que o clube sairá no prejuízo com sua saída por receber pouco. "Então, se você for parar para pensar, o Cruzeiro pagou quase 8 milhões de euros pelo Arrascaeta. Se você pegar 10 (milhões), ainda tem que pagar 4,5 milhões de euros que ainda deve na Fifa, pagar a parte do Supermercado (BH) e aí sobra para o Cruzeiro 500 mil euros", disse ele em coletiva sobre a parte que sobraria da oferta do Flamengo.

Bem, sobraria esse dinheiro porque… o Cruzeiro não pagou o restante. Pior, o dirigente argumenta que será prejudicado por ter de quitar suas dívidas. A diretoria celeste deixa claro que pretende enrolar o máximo possível seus débitos e só vai pagar se for inevitável.

Arrascaeta não é exceção. O Cruzeiro tinha na Fifa dívidas que somavam R$ 50 milhões, segundo o último dado divulgado. Não se sabe o montante atual. Foi gerado pela diretoria anterior, ok. A atual diretoria celeste contratou Fred e já perdeu uma ação para o Atlético-MG de R$ 10 milhões, contratou Mancuello do Flamengo, e também não pagou. O clube recebeu R$ 62 milhões de prêmio do título da Copa do Brasil: usou alguma parte para reduzir débitos? Não se sabe.

Não dá para tratar um caso assim como "Ah todos os clubes fazem isso". Sim, há times brasileiros com dívidas na Fifa, mas não deste tamanho e em operações tão frequentes. O que o Cruzeiro tem feito é chutar para o alto qualquer fair play financeiro em competições.

Pense no Grêmio, um time com patamar financeiro similar ao do Cruzeiro, que regularmente vende jogadores para reduzir seus débitos. Foi assim com Arthur, com Pedro Rocha. Perdeu esportivamente, mas equilibrou as contas e agora pode contratar. É justo que uma gestão como a do Grêmio dispute o mesmo campeonato que o Cruzeiro que se auto-financia na base do calote?

O mesmo vale para clubes como Palmeiras, Flamengo, São Paulo e Athletico que ajeitaram suas finanças, fizeram sacrifícios. Se os três primeiros têm mais dinheiro agora, é porque cortaram antes e arrumaram meios de aumentar receitas e também venderam… para pagar dívidas em alguns casos.

A Fifa tem apertado a legislação contra clubes que não pagam por transferências. Mas está claro que os efeitos demoram. Uma situação como a do Cruzeiro e seu time montado na base do "pague quando puder" beira o surrealismo.

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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